CONVIVER PARA CRESCER

19/09/2011

Ter um plano para executar,estimula e ensina às crianças noções de organização e tempo de espera.

REVISTA CRESCER

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Ter um projeto para fazer com os filhos. Dito assim, parece coisa muito séria, daqueles assuntos que precisam ser discutidos pelo pai e a mãe quando as crianças não estiverem por perto. Nada disso. Um projeto familiar pode ser algo muito prazeroso. São propostas que levam um tempo, sim, para ficar prontas, mas que envolvem e divertem em todas as etapas. Pode ser a criação e montagem de um brinquedo feito com sucata, um bolo que precisa ser preparado, ir ao forno para assar e esfriar antes de ser apreciado, ou uma planta que primeiro tem de ser semeada, regada e cuidada para que só depois se aproveite de suas folhas e frutos.

Além da realização de ver algo em que se trabalhou duro ficar pronto, que pode ser traduzido como aquela deliciosa sensação de “fui eu que fiz”, os projetos são uma ótima alternativa para passar o tempo juntos. Facilmente esses momentos entrarão para as memórias mais queridas dos seus filhos e podem ser considerados um ótimo exemplo daquele tão falado tempo de qualidade. Pode ser que você não possa ficar muitas horas com seus filhos todos os dias da semana, mas imagine todo fim de semana vocês montarem mais uma parte do avião de brinquedo ou medir o quanto a muda de planta já cresceu? A sensação de companheirismo e de que vocês vão estar sempre juntos nessa tarefa é o que vai ficar.

“Trata-se de vivências extremamente positivas em todos os sentidos. Integram a família e ensinam, de forma lúdica e prática, as noções de processos que permeiam toda a vida. Afinal, para que qualquer projeto dê certo há um começo, um desenvolvimento e, então, o resultado”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Isso é verdade desde para fazer uma receita de bolo até um projeto na escola, uma tarefa no futuro emprego ou a compra de uma casa própria.  

Semear valores

Há quatro anos, quando soube que ia ser pai, o ilustrador Valdinei Calvento, 33 anos, se perguntou: “O que eu posso e devo ensinar à minha filha?”. A ideia de fazer uma horta na sacada do apartamento surgiu a partir de seus registros de infância. Ele, que cresceu morando em casa, com árvores frutíferas e plantas no quintal, desejou que Giulia tivesse chance de ver as sementes germinando e se transformando com o tempo. “Queria que ela aprendesse desde cedo que é preciso respeitar e cuidar de tudo que é vivo e que, para ver crescer, é preciso dar alimento e ter paciência”, afirma.

Roberta, 30 anos, concordou, mas, de início, meio a contragosto. “Tive medo de que o apartamento, que não é grande, virasse uma floresta”, diz rindo. “Só que não demorou para que eu também começasse a curtir a ideia. Quando as plantas começam a brotar, é incrível.”

Assim que Giulia passou a brincar com a terra, logo pediu um regador de presente. Pedido atendido, ela passa horas ao lado do pai na hora de cuidar das ervas e plantas. É a garota de 4 anos quem explica: “A gente põe a semente na terra. E tem que dar água para crescer.”

Segundo a educadora Maria Célia Bombana, uma das autoras do livro Horta na Educação Ambiental: Na Escola, na Comunidade, em Casa (Ed. Peirópolis), esse contato com as plantas é extremamente benéfico para as crianças em idade pré-escolar, já que transmite de modo natural a valorização do meio ambiente. “Além disso, desenvolve noções de cooperação para fazer uma tarefa. Sem contar que as crianças adoram comer o que elas mesmas plantaram e isso, claro, as estimula a ter uma alimentação mais saudável”, afirma.  

Hora da colheita

De fato, cada folhinha que surgia na horta da família Calvento era motivo de comemoração. As plantações já renderam festivais de salada, com rúcula, almeirão e alface vindos diretamente da varanda. Por causa disso, a mãe conta que Giulia é uma grande consumidora de verduras e, talvez por influência das plantas, a garota adora beber água.

Recentemente, foi a vez de aproveitar o orégano e o manjericão fresquinhos. Mãe e filha puseram a mão na massa e prepararam uma pizza, usando os ingredientes cultivados em casa. As folhas de hortelã também foram úteis para o quibe de uma outra refeição. “Vivo procurando receitas que possam aproveitar as ervas que temos”, diz Roberta.

Além de ter influenciado nos hábitos alimentares, os pais contam que o cultivo das ervas também os auxilia na hora de transmitir à filha noções de tempo e espera, já que as plantas não crescem da noite para o dia. “Até hoje ela fica ansiosa, querendo que nasça logo. Aí a gente tem que ter paciência e ficar repetindo que cada plantinha tem seu tempo. Como na vida, cada coisa tem seu tempo”, diz o pai.

  Ainda mais além

A ideia da horta deu tão certo que a família Calvento se empolgou e começou a cultivar outras variedades de plantas. A romãzeira, plantada como um bonsai, tem três anos e chegou como semente. Giulia pôde acompanhar todo o seu desenvolvimento e tem orgulho da pequena árvore que segue firme e forte. Mas a garota também já experimentou a sensação de uma experiência não bem-sucedida. A figueira, por exemplo, foi atacada por uma praga na raiz e suas folhas ficaram todas secas. Giulia revela que tem saudade de quando as folhinhas eram verdes e bonitas. Esse processo também é parte importante do aprendizado desse tipo de atividade: ele pode ou não dar certo e é a proximidade dos pais que vai ajudar a criança a lidar com o sentimento de frustração e a oportunidade de recomeço.

O projeto em prol da natureza ainda vai mais longe. A família tem também um minhocário e o húmus produzido vai direto para os vasos da sacada do apartamento. É a própria Giulia que explica que os restos orgânicos não são lixo, são comida de minhoca.

“Creio que as crianças que podem contar com esse tipo de experiência dentro de casa crescem diferentes, aprendem a gostar da natureza e valorizam e respeitam mais a vida. Do que você gosta, você cuida”, complementa a educadora Maria Célia.

A mãe da menina faz questão de ressaltar que a experiência da horta não tem sido apenas uma oportunidade de aprendizado para a filha, mas para o casal também. “Nesse momento de interação entre nós, a gente tem a chance de aprender a educar, respondendo às dúvidas dela, pensando em que valores queremos passar. Nós dois crescemos também”, conta Roberta.

  Outras sugestões de projetos

Que tal planejar uma viagem? Escolhido o lugar, mostre fotos, a localização no mapa, explique o que é possível fazer por lá. Seu filho pode ajudar a montar o roteiro diário de passeios. Faça uma lista com o que deve ir na mala, peça que ele ajude a conferir se tudo o que precisa ser levado já está na bagagem. E um calendário para contar os dias que faltam é o toque final.

Um álbum de fotografias feito para ser dado de presente de aniversário para os avós é uma outra ideia. Vale selecionar fotos desde a gravidez, passando por todas as fases de vida de seu filho até os dias de hoje. Colagens e pinturas também podem complementar o álbum. Outra variação de plano é um livro de ilustrações ou de uma história contada por meio de desenhos que você e seu filho podem fazer juntos. Nos dois casos, a produção das “obras” pode durar um mês ou 15 dias.

Um outro projeto mais enxuto é planejar juntos a programação do próximo final de semana, incluindo o passeio, como vocês vão (se de carro, transporte público) e onde vão comer, sugere a psicopedagoga Quézia Bombonatto. “Essa também é uma forma de integrar a família, estimular a organização, o planejamento e fortalecer a convivência de filhos e pais”, completa.  

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